simples.
agora o que é que pode correr mal? hum...
fazer-se poemas de intervenção com frases tão geniais como “porra! é porreiro!” [sic] e declamá-los aos berros, sem sentido de tempo ou decibeis. enquanto dois senhores fardados de pintores-das-obras-simbolizando-o-cataclismo, com uma máscara como convém, tocam – cada um para o seu lado e sem qualquer objectivo melódico ou harmónico – percussão e violoncelo. emoldurados por uma tela que vai passando imagens de uma moça de peruca loira desgrenhada a lamber a montra de um talho, onde repousa a cabeça de um porco [porco esse que deve estar a rebolar na tumba. ou no estômago de alguém.] mas estamos a afastar-nos do tema. falta a piéce de résistance e com essa é bom que tenhamos cuidado. largue-se duas gaiatas de calças largas e wife beaters a rebolar-se à beira do palco, a atirar-se ao chão, contra as paredes e uma contra a outra. fazendo o público arredar-se cautelosamente do pretendido “diálogo de convergência artística” para “reflexão poética e crítica” [duplo sic], não vá um desses “temas pertinentes do quotidiano” [sic] cair-lhe em cima ou vazar-lhe uma vista. seria talvez uma demasiado dura “projecção do sonho sobre a realidade” [sic]. porque o público deve “absorver de olhos vidrados” [sic], mas à devida distância do altar intelectual e moral de onde emana a sacrossanta sabedoria quase divina – não fosse um dos messias chamar-se Jota Cê. e no que toca ao Jota Cê, há que ter respeitinho.
porque essa gente – o público – é inculto. é uma cambada de pobrezinhos de espírito, a quem a poesia declamada não diz grande coisa, que não compreendem dança moderna e que tem umas noções muito vagas do que será música e de como parece uma imagem. e que, perante uma tão explícita explicação [passo a redundância] da podridão do mundo, não percebe, não percebe. a angústia.
bem, queriam fazer o público pensar, não era?... conseguiram. não estariam era, por certo, a querer forçosamente que este público partilhasse da visão deles.
este texto não é pura ficção e inspira-se numa... errr... hum... performance que a Associação Cultural [dêem-me dois segundinhos para me rir à maluca] Conflito Estético levou a palco no MusicBox no passado sábado, num momento único e epifânico da minha vida, enquanto [desesp]esperava pelo concerto de Norton, que, graças a tão elaborada preparação e apresentação, atrasou em, vá lá, uma hora e meia. e eu sóbria.
resta dar os louros a quem os merece [qual povo madeirense tem o Alberto João que merece]: esta é a segunda performance desta associação e têm-nas levado [às performances] em digressão pelo país. é uma ideia original dos "mentores" [sic] poetas e declamadores Sara Évora Ferreira e J.C. Jerónimo.
Comentários
era esse o objectivo deles ou deixar-me a morrer de sono antes de fotografar o concerto?
calhordas... inconscientes...
irra mais para as "persfincteres" que só sabem produzir bostas fumegantes e varejantes de moscas.
desculpa o comentário escatológico.
(ena... sei uma palavra com mais de três letras e continuo a não gostar dos caramelos)
só mais uma nota: para isto há "sússídios"... chiça.
Que bom viver em Portugal.
Vai lá ver agora e diz-me se está melhor:) As mesmas imagens em tamanho L e palavras a acompanhar.
tenho q conhecer esses Gervásios
(shame on me)
...
mpr: deu uma posta comprida. tudo tem o seu lado positivo lol
intruso: há coisas que não faz mal perder ;))
colher de chá: mas o concerto foi bom. toma :P
eu que andei algo ausente pela blogosfera, volto e deparo com este post, cujo tema e particular incidência nos Gervásios do mundo me fazem lembrar o meu último post.
não, não é publicidade ao meu blog. é apenas vontade de partilhar que fiz esse post direccionado a alguns gervásios lá de casa em particular e a todos os gervásios em geral e, ao fazê-lo, tive sempre na cabeça esse teu post.
o tema era delicado e tu defendeste-te à altura e com sentido de humor que é como eu gosto.