Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2005

suor

amanheceu fresco e o vento salpicou-me a cara de cabelos (agora) pretos. agora presos em dois pequenos totós e enfeitados de ganchos. menina. o sol entra agora a jorros pela janela e a camisola não faz sentido. o ar aqui abafa-me o peito. no escritório vazio, há tempo para fumar o cigarro agarrando o nada como companhia. levo a mão ao pescoço. acompanho com os dedos as gotas de suor. não as apanho ainda. deixo-as passear, vaguear até aos ombros. então aí, encontro com a ponta dos dedos o calor da pele e o prazer de olhar o sol lá fora. ensaio os passos de dança descalços que por vezes não me deixam trabalhar. logo à noite vou ao ballet e quero encontrar-me ali. por agora, agarro nas cartas e vou ao correio. deixar o vento soprar-me arrepios na pele molhada.

let's go and meet the panzies!

andava à procura de alguma coisa que soltasse um sorriso. daquelas coisas que, por muito chato que esteja a ser o dia, nos desarmem totalmente, e nos façam ostensiva e descaradamente " arreganhar a tacha " * ... ora para isso, temos sempre o King Julien. o rei dos Lémures de Madagascar . este "self proclamed king" é assim daquelas personagens secundárias que brilham filme fora e é a canção dele que se sai a cantar do cinema... sem desprimor para os pinguins que andam à estalada "- don't give me excuses, give me results!", ou para Mort , o bichinho fofinho irritante por excelência, digna sátira aos Bambis da vida, que, de facto, de tão doce... apetece "mergulhar no café", como diria Gloria (a hipopótama delicada)... e depois, é só assistir à recepção dos "giant panzies" para ganhar o dia. - shame on you Maurice! did you not see you've insulted the freak? (ler com sotaque pseudo-jamaicano por favor) e isto é só uma parte ínfima

pára tudo! pára tudo!

então não é que descubro que há uma bolsa para blogs ?! e mais! o Polegadas está lá ! (parece-me que com uma boa cotação - cof cof, sopra nas unhas - mas não percebo um caracol daquilo... só barrinhas e quadros e gráficos... eu até sou de letras... e deixei a cadeira de economia a descansar na faculdade...) e mais! alguns de vocês, bloggers amigos e fiéis seguidores d'A Palavra deste blog, também lá estão! como? não faço puto, meus caros, não faço... mas convenhamos que me valeu umas gargalhadas valentes. especialmente quando descobri que um blog meu conhecido, que está parado há meses (tsss tsss... e escrevia tão bem, o rapazito...) está mais bem cotado que o meu! isto não há direito...

slow motion ou o strip-tease numa estrada do alentejo

the tree of us Ben Harper [welcome to the cruel world] a estrada corre debaixo dos pneus, asfalto escurecido pelas sombras, ainda quente do fim do dia. a promessa do mar lá ao fundo. muito ao fundo, onde acaba o céu. ainda falta. mas o percurso é também parte da viagem. sem pressas. não tenho pressas. o tempo só começará a contar quando tiver de voltar. o silêncio dos estofos, do cigarro a crepitar entre os lábios. lá fora voam candeeiros alaranjados, recortando-se cada vez mais no azul-negro. o sol foi descansar, vestindo o seu pijama laranja. do outro lado, lentamente, surge, provocante, redonda, lá ao fundo, a lua. saída da mesma cama, veste o mesmo pijama. e enquanto sobe lânguida pelo céu, vai despindo o pijama devagarinho, para passear nua a sua pele alva, noite adentro, céu afora, numa dança sensual com as copas das árvores. iluminando o rosto cansado descansado dos viajantes na estrada.

23.07

praia não vigiada. é proibido nadar. correntes fortes. não farei juízos de valores. quando cheguei, improvisava-se uma corda, passavam polícias de calções e capacete de bicicleta, correndo na areia escaldante. eram seis. estavam acampados na praia. dois, agora, tremiam juntos, sentados nas rochas. outro, mais acima, de cabeça enterrada nas mãos, olhava o azul como se fosse negro e nada. outro, ainda, jazia inconsciente, deitado de lado, com o quinto elemento a tentar aquecê-lo, engolindo as lágrimas. por entre um aglomerado de rochas, descobri que os anjos, às vezes, não são transparentes, não têm asas. vestem fardas azuis ou vermelhas ou brancas. e, incansáveis, de corpos esfolados, carne rasgada pela inconsciência dos outros, inconsciência de si, suores frios, de olhares impenetráveis, tentam soprar vida num corpo inerte, gelado, pescado de entre as pedras fundas e as ondas batidas. fazem das suas mãos coração forte e pujante, bomba de impulso que acorde (por favor) aqueles braços ca

lacuna

sentir que falta o evidente. tantos pedaços sem encaixe, tantos pedaços a deambular, sem pouso, sem lugar. sempre ausente, presente divino com dois cordéis de seda de cor indefinida do espectro universal. símbolo gravado num círculo de luz, gaveta de pó brilhante, envolve num laço sem nó. o laranja pincela em ondas, acompanha o corpo sedento de música. volátil, brinca no ar, rodopia e flutua, branco, deserto, na gravidade ambígua de um saco vazio (cheio de ar) a voar. coup-de-pied, sapatilha cor-de-rosa, fita de cetim, tule flutuante, costas finas, pescoço de graça (garça), sonho de menina em caixa de música, agora quente de suor que soltou as voltas do corpo enrodilhado. assim muda o compasso, sem recuperar o passo. é quente, a cor da vela, que apanha de surpresa com cafeína. desperta dentro do sonho premente, gritante, que lateja nas mãos que podiam ser pés de firmes e seguros. cai o chão. na pele, a gota que se faz língua, percorre o mundo redondo. quer norte, quer sul. costa e mar

writer's block

considerando o Polegadas, imaginem que faziam um post para aqui. sobre o que seria e porquê? se quiserem, enviem mesmo um texto. quem sabe não sai publicado... ;)

túnel

já alguma vez tiveram o impulso violento de abraçar com força uma pessoa completamente desconhecida, apenas pelo olhar profundamente triste que trazia consigo?

something old, something new

... something borrowed, something blue and a silver sixpence in your shoe... quando era miúda, e, devo confessar, até muito tarde, queria ser princesa por um dia. queria casar-me como manda a regra e os filmes românticos todos. ia desenhar o meu vestido, escolher as flores, ter uma banda a tocar a minha banda sonora, fazer um passeio a cavalo na praia para as fotos, e o meu marido ia chorar desalmadamente quando me visse entrar na igreja. depois apercebi-me que sou agnóstica. depois comecei realmente a ir casamentos. e a fazer uma lista do que não queria no meu. começou com a lista das pessoas que se "tem de convidar": > as tias-avós gordas de blusas às flores, que riem histéricas e choram feitas carpideiras, falam mal de toda a gente presente num raio de 2km, borram a maquilhagem da noiva com beijos pegajosos e andam atrás dos putos pequenos todos para lhes fazer o mesmo. > os putos pequenos, demónios birrentos de laçarotes foleiros que fazem fita em frente ao carrinh

preencher-me

[ms] de mar. de azul e verde e castanho-rocha e amarelo-sol. do rosa-choque da toalha e da mochila, descansadas, finalmente. comer gelados, ler e adormecer embalada pelas ondas lá ao longe. andar sem relógio. o vento no corpo foi o meu despertador. a pele a cantar de sal e suor. o cheiro do protector solar. o sabor da maresia pelos lábios. precisava disto. mesmo com um escaldão no rabiosque :)

visualizem

parte da tarde do dia. apesar de ela estar no trabalho desde as 10, o patronato chegou às 13 a querer fazer ditados de 15 páginas em cima da hora de almoço dela. ela teve de apontar em letra de médico - que não sabia que tinha - os ditados intermitentes, recheados de "coiso" e "prontos, tu sabes" às quais teria de dar definições específicas quando voltasse. assim que regressa de comer, senta-se com o intuito de despachar as tais 15 páginas de projecto alterado, com tabelas, contas e imagens. tudo por decifrar e a enviar dentro de meia hora. tenta concentrar os olhos e os dedos, que a dor de cabeça já lhe assou o cérebro. já está de olhos em bico. o patrão neguinho, de pança saliente, carapinha e calções, sentado no outro computador, começa a declamar Shakespeare. alto, que ele só tem dois volumes: alto e muito alto. ela pede-lhe suavemente que a poupe. ele ri-se e continua. ela faz uma careta que desenvolve, muito rapida e detalhadamente, para o queixume trémulo em

blank

o cursor olha para mim, expectante. a companhia de Ella tenta abraçar-me. a folha está em branco. dizem que o branco é a união de todas as cores. as palavras às vezes são tantas que sufocam à saída. gostava de dizer muita coisa. aos pedacinhos. em torrentes. saído de mim. bem do fundo. do que tenho de bonito e de feio. do sincero e perfeito porque real. perco-me em meias frases. a monotonia das metáforas. o monocromático. há por aqui uma bruma. ardem os olhos. a voz não solta a língua. não solta o suor preso à pele. não solta a vida dos dedos. vão. fechado. preso. oculto. entupido. vedado. não vale a pena. pouco há a fazer. agora, as letras doem.

nevermind

estou a precisar de férias. durante bastante tempo estar longe de tudo. preciso de um sítio meu. só meu. onde possa descansar. e desligar. onde possa ler umas horas, apanhar sol, molhar-me na água fresca, ouvir música e adormecer a contar estrelas, descobrir constelações inventadas, com a luz de presença da minha lua. crescente, minguante, nova ou cheia. preciso da lua. e de ventos quentes que me embalem as angústias e me tragam as noites compridas de menina. esquecer-me de dias como este. de temperamentos sem sentido. de umbilicalismos. preciso de não ter de desmembrar-me. quero ver o pôr-do-sol às 9 e tal da noite. sentada na areia ou no topo do monte. mas sem relógios por perto, sem nada que me lembre que tenho de ir a correr para algum lado. que não tenho tempo. que o tempo me tem presa. preciso de dançar descalça na relva. de largar as energias negativas na tontura das piruetas. preciso urgentemente de gritar. alto, muito alto. até a vibração da voz desfazer o nó que tenho na garg

london, 07.07.'05

sweetheart: went to work. I left you asleep, lying on our bed, dreaming. I love you so much. days and nights spent with you are paradise in this crazy world. oh, I wish I could stay, even for a few more seconds, lying there, nesting beside you. well, gotta go now, into the subway like everyone else. but at least I'm smiling, with the memory of you always with me. luv ya. see you later. p.s.: don't worry about supper. I'll arrange it for us today esta nota é ficção, cedida pelo querido Bufas . quantas terão ficado em cima de uma almofada ao lado de cabelos espalhados e cheiros quentes? a homenagem merecida a quem não vai voltar a casa.

cavalheiro évora

aqui ao escritório costuma vir um senhor, colaborador da empresa. entra sempre com o seu andar pesado dos cabelos brancos e da barriga enorme. sorriso em riste para o que der e vier. saquinho do pingo doce com fruta fresca, porque as compras são feitas antes de passar por cá às 10 da manhã. demorou cerca de 2 meses a deixar de me chamar Simone ou Yolanda... começou a pedir-me ajuda para ver os mails dele. ainda não percebe disso dos computadores, e a secretária dele está de férias. mas já se inscreveu em informática na universidade da terceira idade. descobri que também colabora com colegas meus de há uns anos, e é amigo do meu encenador . anyways, hoje cá entrou logo de manhãzinha, com o seu "quem é uma flor?" com que me cumprimenta todos os dias, e, penso, para colmatar o facto de nem sempre se lembrar do meu nome. estendeu-me um embrulho. agora tenho o cd de Humanos, que apenas ouvia no site deles. há gestos que deixam uma pessoa desarmada...

sonhos

percorri a rua da Escola Politécnica com Louis Armstrong e "A kiss to build a dream on". a pensar na minha noite. em como o subconsciente nos prega rasteiras e nos avisa que, apesar de tudo, ainda acredita (ele, coitado) em certos finais felizes.

corrida de obstáculos

chegar a casa tarde, cansaço. entrar pela porta que faz mais barulho na casa toda e está de frente para o quarto dos pais. roda chave, roda chave, sobe tranca. clanc clanc. abrir porta do corredor. atravessar o corredor. passar por cima do cão de guarda. que dorme. pesadamente. ronca. muito alto. completamente espojada no chão, muitas vezes toda esparramada de barriga para cima, de beiços descaídos para trás... ó menina, compõe-te! isso é forma de guardar a casa? vidas... de cão!

shoe sale

numa pessoa de baixas finanças, gaja, muito gaja, que gosta do seu saldozinho, da sua bagatela, da sua espiadela de montra, ir passear para um centro comercial cheio de oferta e sem um tostão no bolso é coisa de loucos... e dá nisto! entrei na loja onde havia mais fatos de treino e sacos do continente per capita e experimentei os sapatos mais pirosos que encontrei! estas são umas sandálias de salto agulha em verniz azul, de tiras cruzadas ao lado, adornado por um maravilhoso coração em strass atravessado por uma seta. um mimo!

sun, moon and the stars

num quarto de céu e luas, nada melhor que um sol a rir-se para mim todos os dias...

humanos

só para partilhar um pouco das imagens que trouxeram os sons.