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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2006

escape

repouso s. m., acto ou efeito de repousar; sossego; paz; ant., ancoradouro. chuva do Lat. pluvia s. f., água que cai em gotas da atmosfera; aquilo que cai ou parece cair do ar como chuva; fig., abundância; grande quantidade; cornucópia; Electrón., interferências ou ruído na imagem, consequência de um sinal televisivo fraco e que se manifestam no ecrã sob a forma de minúsculos pontos brancos; voo de voar s. m., meio e modo de locomoção (das aves, insectos, morcegos, aeroplanos, etc. ), através do ar; fig., impulso rápido; elevação do pensamento ou do talento; arroubamento; êxtase. ... até já...

give me please

the gift | coliseu dos recreios | 21.abril é tão difícil ouvir sem sentir...

sempre

avenida da liberdade | 25.abril.2006 sabes, pequenino, eu era assim, como tu. e as pessoas saíram para a rua. um dia resolveram ser livres. esta gente? estão contentes, então... porque é como fazer uma festa de anos. a liberdade faz anos. em vez de velas usam os cravos... percebes?

ao fim do dia

come um bolo de arroz em belém. descobre novas formas em dias repetidos. agradece a ovação de pé que te surpreende em despedida. desprende o suor a terra dos cavaleiros em toalhitas com cheiro de pó de talco. pó-de-palco. perfila-te com o sol, deixa-o lamber-te as feridas. sobe a rua em versos cantados. fecha as listas como persianas. conta em decrescente, ouve a música bem alta. enrola a saliva seca de um dia de cigarros em dois beijos bem dados. passa as portas, que reflectem o mundo para o lado de lá. do lado de cá, tu. e a casa adormecida. que acordas com ventos cansados. onde serenas. e te aninhas. suspiro. café?

esta noite

finding someone that cares for you and I, I'll dress my songs cause I care for you, cause I, I will take my time driving you slow. driving out cause I care for you, and then someone loves you but I don't care for you cause I, I will get my love, cause I will be your love, oh no... there were times I could care for you, but then I found that girl that can smile for you and I start to be something and I, I don't care, why should I care? I will get my life cause I will be your life oh no don't look back, don't look back, don't look back I will build my world I will sing my songs, I will keep my helmet on and you can rule my world, you can rule my songs, I will keep my helmet on the gift | am.fm | driving you slow

serendipity

não se encomendava à sorte. gostava de saber que fazia tudo o que estava ao seu alcance. tinha sempre esperança que o esforço recompensasse. mesmo que falhasse, sair sempre de cabeça erguida com a certeza de que perdera por não ter mais para dar. fazer o seu melhor, mesmo nas coisas mais pequenas. não ficar à espera. mas naquele momento em que os pensamentos lhe chicoteavam a cabeça, desmembrando o vigor da água do chuveiro na pele nua, à luz surgiam apenas sombras. as lutas travadas sem rei, os trabalhos forçados e os dias perdidos, afastados do sol e dos sorrisos, em prol de um único objectivo. que não queria ter. que a roubava ao que realmente interessa. as coisas de facto tinham perspectivas estranhas na sua cabeça e não conseguia organizar as prioridades como os outros faziam. o normal sufocava-a. mas se procurasse ar ficaria sem chão. o dispensável e o indispensável, presos um ao outro por arneses que lhe estrangulavam a alegria de viver. o chorar ao domingo à noite porque depois

dos montes

revisitar raízes, elos meus. perdidos com a terra. os cheiros fortes do verde novo, das cerejeiras em flor, da caruma dos pinheiros, do alecrim. nos rostos, onde a vida riscou os dias e assinou de cruz, reconhecem-se os socalcos da terra. todo um cemitério com o meu apelido, linhas e traços entrelaçados como teia fina. as mãos de calos e braços abertos. os fornos a lenha. escondidas nas arquitecturas desvanecidas ainda as pedras empilhadas em paredes escuras e postigos coloridos, chão irregular e a água a ferver para depenar a galinha. o crepitar do lume. o queimar do sol reflectido na pureza do céu. a noite tão estrelada que nunca enegrece por completo, recortando as montanhas. o vinho. forte, penetrante, novo. cada casa tem o seu. da sua terra. em cada casa copos de vinho e presunto de salmoura e broa e salpicão. "comeide, bebeide" - quase obrigam os olhos brilhantes. e lastimam a ausência dos filhos e das forças para voltar à vinha, e o domínio dos grandes que os fazem pen

tango

[ms] sustentar na ponta dos pés descalços o peso do corpo. endireitar o pescoço e alongar as costas, os braços. sentir as rugas da carpete poeirenta e o balanço das notas que, invisiveis, perfumam o ar e lhe revoltam os cabelos. primeiro lentamente, num aquecer ruborizado que dá a liquidez do olhar. depois perder o tino e as angústias pelo suor. quebrar os passos sem lhes querer sentido. ondular sem pudores de se tocar. forçar colinas e ondas num terramoto agridoce. permitir ao fogo que aquece as coxas redimir-se em golpes de tango. sem pouso definido, a pele vai sentindo a surpresa de cada passo cadenciado, partindo de pontos fluentes e confluentes de uma parede ou do chão. olhos fechados na tontura violenta. sentir as vergastadas com que as madeixas húmidas comprimem os ombros. estacar numa náusea de prazer ofegante. e ao fundo o olhar brilhante, voraz, sendento. a figura que se agiganta num paso doble, arrastando-se, impelindo-se pela cintura. o aproximar ardente de olhos fixos que

o anúncio ou os desastres de polegar

para quem segue as minhas desventuras na tentativa de encontrar um lugar ao sol na área da representação, segue um lamiré da minha quinta-feira 8 da manhã na casa do Alentejo. ao mencionar "figuração especial", mandam-me subir. primeira falha da minha agência: afinal o "leva qualquer coisa mais formal" queria dizer fato de executiva... na sala de "styling" dizem que as minhas calças de ganga e blazer não têm muito a ver com jornalista [eu devo andar a ver os canais errados] e dão-me um fatinho cintado castanho e uma blusa justa de mangas à cava bege... ergh... as minhas cores preferidas. na casa de banho reconheço uma "colega de casting" e o alívio de ter uma cara conhecida ajudou a suportar as longas horas de espera. depois vejo chegar gente de calças de ganga e blazer que estão "óptimas"... go figure. esperámos por ser maquilhadas - como nos tinham dito - e nunca aconteceu. da sala de espera víamos na maquilhagem as meninas que seriam

para castigo...

... fiquei num anúncio... não no das mãos, obviamente, mas noutro para que fiz casting sem estar marcado... pois que é uma figuração especial, o que quer dizer: estar numa molhada de gente e dizer uma ou duas deixas. conhecendo o guião, a minha deixa [muuuito especial] vai ser: "doutor, doutor"... em coro com outros tantos. se, depois da edição e ideias mágicas em cima da hora do cliente, eu ainda aparecer, eu aviso eheh entretanto, vou levar a moleskine... é um dia inteiro num set de filmagens... this should be interesting... muahahahahah!

comunismo dos corpos

casting. manhã inteira a serem-me tiradas as medidas, ser avaliada não só pelos senhores que mandam na agência, mas também pelas wannabes-cheias-de-fome-com-maquilhagem-a-mais-e-que-não-sabem-que-não-se-usa-preto-nem-riscas-num-casting com quem me fui cruzando na sala de espera. tudo corria bem. a franja e o cabelo comprido agradaram. tive uma contracena porreira. além do meu casting, tive que fazer assistência no de outro rapaz [era um anúncio com casais], e ainda foi uma risota. mas depois foi a parte do fingir que cozinho [metia culinária] e o senhor lá me pede: "preciso de um grande plano das tuas mãos, porque vais pegar na embalagem". está o caldo entornado. tenho as mãos pequeninas. as montagens e nervos deixam-me pouco espaço de manobra para manter as unhas bonitas, sem as roer. isso são vitórias esporádicas. já me tinha dado trabalho suficiente vestir algo que enganasse a câmara acerca da minha barriguinha. lá estendi as mãos no fundo preto, avisando que fazer unhas d

blossom by J.B.

um dia entrou-me por aqui adentro e olhou para o meu querido vaso de flores laranja, de onde sobravam apenas uns talos secos. - isso 'tá morto? - não sei... não tem razão, rego sempre, tenho tanto cuidado... - pois, mas sabes, com tanto tabaco e ambiente fechado é capaz de já ter morrido. - espero que não, gosto tanto delas... vamos ver, na primavera. o tempo passou e nada aconteceu. as florinhas não voltaram a aparecer para colorir os meus dias. mas mantinha o vaso ao lado do rádio, à espera delas. há uma semana, enquanto montava o cenário, ouço o assobio conhecido. lá vinha ele, sempre o primeiro a chegar, beijinhos e as chaves da torre, onde são os camarins, onde pinta todos os dias a cara de vermelho demoníaco. - tenho lá uma prenda para ti. esqueci-me de te trazer, mas um destes dias passo lá no escritório. - são post-its?! [isto aqui é um luxo, de facto] olhou-me sério e carrancudo até explodir na sua gargalhada - logo vês. ontem, depois do espectáculo, voltei aqui para fazer

nebulosa

respiro os tons de cinzento que perfilam este meu dia. mais um sopro de fumos anelados que aquecem o peito, ardem nos olhos e preenchem o cinzeiro, sepultura cinza e laranja. com melodias suaves escondidas no canto da secretária, abafadas em cantos urbanos de buzinas e tosses e motores. a chuva insistente que me enganou a manhã e ensopou-me o casaco de malha. nebulosas que correm e se rasgam fio a fio por luzes douradas, fugidias, efémeras. o vento e o canto da tempestade soam dentro de quatro paredes brancas, sombreadas da fragilidade do dia lá fora. soam como folhas de papel, rumorejar de teclas e seres de metal que cospem tinta negra. soam a perguntas, apitos agudos e pedras de isqueiro. cheira a frutos silvestres, queimados em gotas grossas, vermelhas, sangue espesso que se cola aos dedos, os queima e paralisa por um segundo, até se fragilizar e desfazer em pequenos grumos macios. a manhã entardeceu. a tarde anoitece. sempre em tons de cinzento. preparo-me para mais um regresso de

este post não mora aqui

esfumou o desejo com a ponta dos dedos, como quem lê uma textura. depois entardeceu no silêncio esbatido do descanso, acompanhado por melodias urbanas de hábitos e pegadas. fechou os olhos.

saldades

pouso as chaves, o leitor de mp3 e o livro no cantinho da secretária. sento-me, puxo o maço de tabaco para perto do computador. antes que cheguem os outros, o primeiro pedacinho da manhã é meu. entro no messenger e uma janelinha salta avisando-me de correio, diz que é lixo electrónico. "saldades" é o assunto. antes de deitar fora, algo me leva a abrir a mensagem. Rocha era um dos nossos carregadores. fazia parelha com o Sr. Fernando, um velhote rijo que se recusa a arrumar as botas e aposta todas as semanas no Euromilhões. todas as semanas dizia "menina, prá semana, se não me vir, já sabe! aqui o Careca ganhou o éro-milhões e pôs-se a andar prá praia! mas eu deixo um recado com o Rocha juntamente com um cheque para os putos dele e um dinheirinho para si também". Rocha ria-se. sempre na sua onda muito serena, mostrou como se dança capoeira no meio de um monumento nacional: pousou os ferros que trazia às costas e atirou-se para o chão. fazia o que lhe competia mas aju