Avançar para o conteúdo principal

comunismo dos corpos

casting. manhã inteira a serem-me tiradas as medidas, ser avaliada não só pelos senhores que mandam na agência, mas também pelas wannabes-cheias-de-fome-com-maquilhagem-a-mais-e-que-não-sabem-que-não-se-usa-preto-nem-riscas-num-casting com quem me fui cruzando na sala de espera.

tudo corria bem. a franja e o cabelo comprido agradaram. tive uma contracena porreira. além do meu casting, tive que fazer assistência no de outro rapaz [era um anúncio com casais], e ainda foi uma risota. mas depois foi a parte do fingir que cozinho [metia culinária] e o senhor lá me pede: "preciso de um grande plano das tuas mãos, porque vais pegar na embalagem".
está o caldo entornado.
tenho as mãos pequeninas. as montagens e nervos deixam-me pouco espaço de manobra para manter as unhas bonitas, sem as roer. isso são vitórias esporádicas. já me tinha dado trabalho suficiente vestir algo que enganasse a câmara acerca da minha barriguinha. lá estendi as mãos no fundo preto, avisando que fazer unhas de gel era hora e meia: se ficasse com o trabalho, não se preocupassem que já podia pagar umas mãos comerciais. ele riu-se.

e criei uma teoria: o comunismo dos corpos.
devíamos ser todos lindos. altos, com pernas compridas e bem torneadas, barrigas lisas, cabelos brilhantes, mãos de dedos longos e delicados, peles impecáveis, sobrancelhas arranjadas. sairmos todos, dentro do estilo e genes de cada um, com um aspecto que vendesse o l. casei imunitas, o caldo knorr, o telemóvel de 3ª geração ou o detergente da roupa 5 em 1.
depois os senhores, em vez de andarem à pesca de modelos que saibam articular, já podiam escolher só pelo talento.

Comentários

Anónimo disse…
eu marcho contigo nessa revolução...
na linha da frente...
das.me a mão nas trincheiras?
Anónimo disse…
ESTOU DENTRO!
Anónimo disse…
isso é que era! seleção natural! muita mer................a para o resultado!
Anónimo disse…
posso ser do contra?
se o mundo fosse assim não tinha piada.
e quem diz que esses "bonecos/as insufláveis" são os mais bonitos?
vende-se uma imagem por cansaço, por moda, por repetição.
escorre-se o sumo de tudo isso e são carne para canhão.
lamento discordar mas prefiro as pessoas pessoas.
prefiro a beleza de todos os dias, a uma imagem de cartaz de uma clínica de estética onde se vende a beleza a metro e a kilo (e sem celulite porque eles não gostam! ...) ou a das meninas (?) da maxmen, ou a dos meninos depilados de t-shirt justa e cabelo seboso de gel, ou a das meninas com ar de drogadas e enfastiadas dos desfiles de moda (que sonham ser actrizes, e jornalistas, e "morangas", enquanto snifam linhas de coca nos bastidores...).
não mudes.
já basta seres quem és para seres bonita.
por dentro e por fora.

hangloose e muita merda.
Anónimo disse…
E por acaso:):)...até és bem bonita.

Mensagens populares deste blogue

sabes quando te revisitas e já não te encontras? não sabes o que fazer de ti contigo. as perdas têm sido valentes, as estocadas mais fundas. pensei que por agora a pele estivesse mais grossa, mas não. pensei que estivesse de pés assentes, mas há força nas pernas. perdi o meu pai. perdi o meu chão. espero por uma fase boa. em que esteja tudo bem, organizado. nem que venha depois outra ventania, mas um pedaço de vida em que tudo esteja no seu lugar. só por um bocadinho. mas não. as peças estão espalhadas, quando começo a arrumar umas, caem ao chão as do outro canto da vida. um empilhar de pratos num tabuleiro demasiado cheio, que não se tem oportunidade de ir despejar à cozinha. até as metáforas me saem avariadas, já. tabuleiros de cozinha é o que me sobra. isto são metáforas, certo? é um padrão, o padrão caótico da minha vida, que tento desenhar em palavras que já não tenho. quero despejar-me aqui mas não sei bem como. os medos continuam, sabias? estão piores, diria, porque...

the producers

there comes a time in your life when you have to stand up straight and scream out loud so that everybody can hear: "Who the hell do I have to fuck to have a chance around here?!" The Producers | Mel Brooks | Drury Lane Theatre | Covent Garden quando ouvi isto, soltei a gargalhada amarga que me acompanha nas ironias da vida. agora já nem consigo rir. estou cansada. não dou o cuzinho e três tostões, mas dou o couro e três tostões. não conta, porra?

reviravoltas

[ms] mais uma para o currículo. descansa. estou cá, para te dar a mão. e um dia ainda nos vamos rir... os dois... entretanto, rimo-nos também, que não há mal que não desista à vista dos dentes desgarrados e das barrigadas de nós os dois. porque eu sei o que vales, quanto vales e como vales. e para cada ingrato, grato e meio. os destinos entrançam-se devagarinho. nada acontece por acaso. há quem consiga aguentar o nó na garganta de mão dada. sabes que quando se fecha uma porta... nem que tenha de rebentar uma janela à pancada... o céu troveja porque não sou só eu que estou revoltada... peito cheio, vem aí o vento... vamos apanhá-lo de velas içadas. vamos apanhar a chuvada de boca aberta ao céu... vou sair agora. vens?