Avançar para o conteúdo principal

dos montes



revisitar raízes, elos meus. perdidos com a terra. os cheiros fortes do verde novo, das cerejeiras em flor, da caruma dos pinheiros, do alecrim. nos rostos, onde a vida riscou os dias e assinou de cruz, reconhecem-se os socalcos da terra. todo um cemitério com o meu apelido, linhas e traços entrelaçados como teia fina. as mãos de calos e braços abertos. os fornos a lenha. escondidas nas arquitecturas desvanecidas ainda as pedras empilhadas em paredes escuras e postigos coloridos, chão irregular e a água a ferver para depenar a galinha. o crepitar do lume. o queimar do sol reflectido na pureza do céu. a noite tão estrelada que nunca enegrece por completo, recortando as montanhas.
o vinho. forte, penetrante, novo. cada casa tem o seu. da sua terra. em cada casa copos de vinho e presunto de salmoura e broa e salpicão. "comeide, bebeide" - quase obrigam os olhos brilhantes. e lastimam a ausência dos filhos e das forças para voltar à vinha, e o domínio dos grandes que os fazem pensar em baixar os braços a cada outono.

vejo o meu pai pequeno descalço de calções rasgados pelas brincadeiras nas fragas, a roubar fruta e a guardar cabras.
vejo claramente nos socalcos perfeitos que desenham as encostas dos montes gigantes, na profusão de flores e no brilho das pedras lavadas. nos ribeiros, riachos e curvas apertadas.

vejo-me ali e reconheço, então, o meu outro lado. sempre esteve escondido atrás dos montes. a explicação, enfim, da minha paixão pelos campos, pelas flores silvestres, pelos perfumes selvagens, da minha teimosia e da minha constante necessidade de ventos cristalinos e de fotossíntese.

Comentários

Anónimo disse…
Desculpa, mas queria fazer-te uma pergunta. Perdi parte de um post quando editava uma imagem, como posso recuperá-lo?

Obrigado madrinha bloguista;)
Anónimo disse…
Tanta saudade... Saudades da terra? Pode ser que os ares da Venda do Pinheiro te façam bem.
Anónimo disse…
casual: já aí vou responder-te, mas não tenho boas notícias... :S

tiago: não são saudades. foi conhecer uma realidade minha de que tenho andado afastada e que afinal me mostra porque é que sou aficcionada do campo. e é beeeeem mais longe que a Venda do Pinheiro :P

Mensagens populares deste blogue

wc cheap&chic makeover

ora passámos disto para isto quem diz que uns pés-descalços do subúrbio não podem ter um Roy Lichtenstein na banheira? com direito a um armário exclusivo para viagens sensoriais ao passado, recheado de pequenas antiguidades da higiene e cosmética por nós coleccionadas através de incursões a drogarias de bairro. trabalho feito por uma equipa de dois, em 8 dias, por um terço do preço que custaria mandar fazer por "profissionais". há por aí alguém que precise dos nossos serviços de consultoria? fazemos orçamentos grátes e vamos a casa...

the producers

there comes a time in your life when you have to stand up straight and scream out loud so that everybody can hear: "Who the hell do I have to fuck to have a chance around here?!" The Producers | Mel Brooks | Drury Lane Theatre | Covent Garden quando ouvi isto, soltei a gargalhada amarga que me acompanha nas ironias da vida. agora já nem consigo rir. estou cansada. não dou o cuzinho e três tostões, mas dou o couro e três tostões. não conta, porra?

reviravoltas

[ms] mais uma para o currículo. descansa. estou cá, para te dar a mão. e um dia ainda nos vamos rir... os dois... entretanto, rimo-nos também, que não há mal que não desista à vista dos dentes desgarrados e das barrigadas de nós os dois. porque eu sei o que vales, quanto vales e como vales. e para cada ingrato, grato e meio. os destinos entrançam-se devagarinho. nada acontece por acaso. há quem consiga aguentar o nó na garganta de mão dada. sabes que quando se fecha uma porta... nem que tenha de rebentar uma janela à pancada... o céu troveja porque não sou só eu que estou revoltada... peito cheio, vem aí o vento... vamos apanhá-lo de velas içadas. vamos apanhar a chuvada de boca aberta ao céu... vou sair agora. vens?