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A mostrar mensagens de outubro, 2005

thumbwork 1.0.1.

eu não me tinha esquecido... cá vai, sem nenhuma ordem específica, a primeira dose de fotos pedidas ... um arrepio. é que arrepiei-me mesmo, hã? as minhas chaves. estas são de casa. é que eu sou tipo guarda prisional. chaves do carro, de casa, do escritório, da casa da minha avó... etc etc... um ensaio. do Sax, neste caso. um espelho. do meu quarto. a fachada da minha casa. desenhada por mim, há uns anos. a pastel. a minha íris. esta teve de ser repescada dos arquivos. o meu canto preferido do jardim. uma casinha que o meu pai construiu, primeiro para brincarmos às bonecas, depois para onde foram livros, candeeiros, almofadas e as minhas "pinturas". continua a luta campal lá em casa porque a minha mãe acha que aquilo é um óptimo armazém de coisas inúteis. luz. a minha preferida. de velas. um objecto. este é companheiro das mais puras e deliciosas batalhas da minha vida. ressalvo, no entanto, que sou (como diria o espanta-espíritos / estonteamento ), uma materialista sentiment

levo-me daqui

fecho os olhos. o tamborilar forte da água nas janelas, feito duche quente na pele fria, arrepiada. desliza depois no vidro com a suavidade do suor num corpo. um corpo... enroscado nu debaixo do edredon. os pés quentes, roçam um no outro, tique de preguiça. uma música ao fundo... jazz, talvez. letras, muitas. turbilhões de palavras. das páginas abertas de um livro o caminho para o lado encantado do edredon. percorrido com sossego. com o mesmo desprendimento guloso com que se estende o braço lânguidamente para abraçar com os dedos pequenos a caneca cor de laranja, fumegante, de chá aromático com uma casquinha de limão a flutuar. doce. quente. ... nestes dias de completa ressaca de trabalho intenso, em que a cada toque do telefone se espera uma nova cascata de nervos, num escritório vazio e inactivo empalidecido pelas luzes de cozinha forçosamente acesas, com o rádio acidentalmente sintonizado numa lamechice da Marginal, não existe nada melhor do que a santa negação...

viciada

roer as unhas. mas quando tenho as unhas apresentáveis, pinto-as quase todos os dias de cores diferentes, do vermelho escuro ao azul, passando pelo rosa discreto. doentio. franzir a testa. preocupação, interrogação, mimo. tudo é uma desculpa para vir a ficar encarquilhada aos 35. música. ter rádio ou um cd sempre a tocar. cantar por tudo e por nada no meio de tudo e de nada. a minha vida (e dos desgraçados à minha volta) é um estupor de um musical. fumar. cigarreiras. tenho uma que é o meu orgulho: tem uma pin-up. com cinzeiro de bolso a combinar. finíssimo... andar pelos blogs. os cheiros e sabores. lugares, pontos, momentos, toques em que me sinto em casa. as cores. mesmo que me apeteça vestir de preto, trago-as nas meias, na roupa interior, a mochila. brincar com os dedos numa madeixa de cabelo. pele. doces. dançar. mesmo que seja no meio da cozinha, sem música. fotografar. com máquina ou com palavras. e ficar danada porque não consigo mostrar o que vi. café. a bica da manhã, de pre

polegada #1

tlec tlec tlec um guião para entregar. não tenho dedos, não tenho músculos, não tenho horas de descanso. até às tantas da manhã, agarrada aos papelinhos manuscritos, ao teclado, ao rato. no trabalho, em casa. tlec tlec tlec boas vibrações chegam com a voz de David Fonseca. Come into my heart é bom para o sorriso cardio-vascular. quero o novo álbum para os meus anos, faz favor...

produtora à beira de um ataque de nervos

domingo 9:00 - acordar. vestir. pequeno almoço de torradas. cigarro antes de levantar o rabo da cadeira, com um "humpf, tem de ser". 9:45 - a caminho do escritório 10:00 - chegar ao escritório. ligar para todos os meninos mimados, para ter a certeza de que estão acordados. fazer sorrir:"serviço-não-perca-o-seu-avião, bom dia!" pensar: e eu que não tive quem me acordasse... 10:20 - a MP está atrasada, vou embrulhando o resto das coisas que faltam e tentar encafuar tudo nas malas que sobram. 10:25 - responder pacientemente ao 35º telefonema do patrão, e dizer que não, não estamos atrasados. ele continua em total histeria-coelho-da-alice-ótica, mas não agressiva. rir com ele e desligar. 10:35 - chega a MP. carregar os tubos de ferro de 20 kg, as 3 malas e os restantes itens escada abaixo. não cabe tudo no meu carro. o pai dela vai ter de nos seguir com o resto. 10:38 - última subida-descida, trancar escritório. 10:47 - ok, agora estamos atrasados. tenho de estar no aer

B

dela, à primeira impressão, temos um sorriso enorme do tamanho do mundo. mulher de armas, determinada, trabalhadora. voz alta e límpida. quando nos direcciona O olhar, saiam de baixo que vem lá água. não se deixa ficar, parece imparável, parece inquebrável. no entanto, deixa-nos entrar de surpresa no olhar doce, de lágrima fácil, no toque meigo das festinhas que dá sem olhar a quem. de ti trago as doçuras dos nossos primeiros passos, o parvo do NMH (que agora sozinho é um grupo). "às vezes a mentira da noite..." o nosso Pó de Palco, o enorme lençol no palco da Barraca, uns puffs onde aterramos para matar saudades, os risos entrecortados de conversas largas, as letras dos espessos guiões que nos passaram pelas mãos, juntas. "Sã' João é bem aventuraaaadoooo". de ti trago as madrugadas no teatro, os encontros naquele portão que tantas vezes nos abriste, as subidas ao escritório e os mailings intermináveis, os cortes de papel, entre cigarros, a bilheteira e a festa

outono

a passadas largas, recebeu o ar frio do fim de dia, húmido e cinzento. a calçada brilhava pelos candeeiros, criando faixas de sombra através dos jacarandás nus. o silvo dos carros no asfalto molhado. contrariou os passos depois de uma hesitação, e desceu. passou o jardim do miradouro com as folhas vermelhas a quebrar nos seus pés. passou o elevador sem parar, calcorreando o passeio estreito até chegar ao largo onde o rapaz vende eternamente as cautelas, na sua pose de mimo. continuou, passo rápido, encontrando o largo onde estivera de manhã. o do poeta. virou à esquerda. o velhote pedia sentado nas escadas da igreja. gente nova velha, ia e vinha de onde para onde. estacou e abriu um sorriso de leste a oeste. "é uma dúzia, por favor". na neblina espessa cheirosa apetitosa, aqueceu as mãos frias no pacotinho irregular de feito de finas páginas amarelas com moradas de gente anónima conhecida vivida onde qual o número. fixou os olhos nas brasas do assador e esperou sem pressa as

aleatoriamente

...passou-se a manhã sem telemóvel. esteve-se no trânsito hora e meia só para entrar em Lisboa, à beira de lágrimas de frustração. perdeu-se 2€ na cabine. foi-se para o Consulado do Brasil enjoar com o cheiro abafado de filas intermináveis em dia de chuva, regressou-se pela calçada escorregadia e enfiou-se o nariz e a paciência em formulários e fotos de tamanhos duvidosos, almoçou-se na secretária, de uma embalagem metalizada, e continuou-se em desespero à espera do telefonema que leva daqui os actores e os cenários de uma vez por todas, levando os problemas de 6 meses para dar lugar aos novos. quando as coisas acalmaram, na hora H, chegou o senhor realizador famoso com um novo guião e descrições de personagens em molhos de folhas A4 escrevinhadas, que residem agora nos meus dedos e dores lombares para terem bom aspecto rapidamente. ... agora, enquanto espero a hora de sair e continuar a busca do senhor das castanhas que me há-de trazer à boca e ao nariz a certeza do outono, vou esprai

dao-se alvissaras...

... a quem encontrar o senhor das castanhas... para abertura de temporada. procura-se coluna de fumo perfumada, carro pitoresco com assador e chaminé, de venda sazonal de castanha assada embrulhada em papel de jornal ou folha das páginas amarelas. daqueles embrulhos que aquecem as mãos e cheiram a outono. o vendedor tem normalmente as mãos escuras e àsperas da fuligem e das cascas das castanhas, húmidas da chuva, onde contrastam as moedas, que rebrilham das brasas no assador e do céu de fim de dia ou de algum candeeiro de rua. visto pela última vez ao pé do elevador da Glória, nos Restauradores. agora está só o carrinho estacionado. estava morno ontem às 20:00h. à zona da Baixa, Príncipe Real, Chiado ou imediações. disponibilidade total a partir das 19:00h. valor pessoal inestimável. sabor de cada Outono de quase 26 anos.

imagens

saiu para a rua húmida e escura, sem pressa de sentir o ar frio. no arrepio, um vento aromatizado abriu-lhe o sorriso. entre carros e eléctricos, sombras, caras fechadas e sacos de plástico, um voa.

descendo

tomo a auto-estrada, saída do laranja quente. sigo no azul escuro, molhado, prateado pela - ironia - lua cheia. chego ao branco pálido de uma vila adormecida, encontro a igreja. de novo o cheiro enjoativo das flores. coroas, cruzes, dedicatórias de nomes que conheço de infância. de novo aquelas pessoas. os fatos e as gravatas, os saltos agulha. um mundo que já não visitava há muito tempo. a minha mãe está triste, o meu pai desorientado. está bonito, com a camisa preta e o blazer cinzento. miro os rostos da minha adolescência, encontrando-os nas paredes de madeira elegante, iluminados pelos écrãs dos computadores. estão na mesma, há tanto tempo. uns mais velhos, um pouco. cabelos mais curtos ou mais compridos. o mesmo casaco dela. a mesma camisa aos quadrados, ruça dele, a gola alta da outra. o estranho furor da menina pequenina, que lhes chegava às ancas. "estás bonita" "estás mulher" "lamento muito". uma filha fala comigo e encontro nela traços delicados,

espelho

não me encontro. ruído de estática. desfocada por outros olhares que nunca me viram. tento reconhecer-me naquilo que me reflectem. outra vez o preto e branco. outra vez o lado A, lado B. a matilha ladra furiosa ao longe. a âmbulância passa aguda no estertor do asfalto. estou parada, à espera. passam e não me vêem. mas ladram e apita. silêncio. silencio. tento timidamente redescobrir-me. toco-me e sinto as curvas, profundidades e superficialidades, endérmico, epidérmico, pensar, agir, sentir. há um ponto no peito que me faz chorar. é como um botão. há uma pinta no peito que me faz sorrir. é bonita. nas horas vagas da noite alheio-me do outro lado. onde não me sentem e mesmo assim pensam de mim. penso de mim assim, duvido. redefinições, remix, adaptações, em loop, inspirado na obra de. não me encontro em lado nenhum. posso ser só o que dizem as pontas dos meus dedos? estou algures no meio.

breathe

o trabalho não me deixa respirar. há dois dias que não almoço, saio tardíssimo (ainda cá estou). quando corre mal, é-se incompetente. quando corre bem, é-se transparente. mais ansiosa estou de ver esta gente pelas costas, do que sinto o sabor da vitória suada, cujos louros nunca cairã na minha cabeça. vidas cansadas, das quais pouco ou nada vejo concretizado. nem tempo tenho para deixar aqui as imagens de lisboa que trago guardadas para contar. espero melhores ventos, e que venham depressa. hoje, promessa de outro jantar tardio. e de adormecer em frente à televisão.

birthday # 1

ontem fez um ano que inseri aqui as primeiras baboseiras. continuo sem saber bem porque o faço, sem estilo fixo ou forma. não sei de onde vim ou para onde vou. recordo-me desreconheço-me, sorrio-me. o vício está cá... obrigada a quem anda por aí. é bom falar convosco.

stolen

[ms] num dia de chuva, triste e mal disposto, entre claustros vazios apenas o chiar das rodas. dores e pesos em mãos demasiado fracas para enfrentar o carrego. as costas gritam e os pés latejam. espera. ainda falta. horas depois, fecha-se a porta e o cinza do céu espera do outro lado das pedras. o corpo cede, treme, pede açúcar. moedas contadas, não vai dar para almoçar. regresso, não quero. não mais telefones. não mais écrãs brancos à espera de palavras. as palavras não estão aqui. trago-as comigo. mas não as posso deixar aqui. são levadas no vento, que só ele as ouve e pode ouvir. hoje não me sinto. talvez, se a chuva vier, eu sinta finalmente no seu bater o contorno do meu corpo. penso na infância. nos dias de chuva, em que as gotas me pingavam do cabelo comprido, me manchavam a roupa e arrepiavam. e com um sorriso abria a boca e bebia da chuva a pureza encantada dos acreditares. que a chuva deixava o cabelo mais brilhante. que a pele molhada me fazia bonita. o chegar a casa e a to

lavandaria

as paredes velhas da casa antiga caíram. sem pré-aviso. de lá, uma ventania repentina. e o sal revolveu o pó parado. no meio do cheiro a roupa engomada.

avo actor

ali sentado, olhos brilhantes, molhados, miras o espaço de mãos no colo. ainda és grande. de vez em quando, a mão direita mexe-se, um pequeno tique de vida. a tua voz, avô, é feita da profundidade da tua alma. grande, poderosa. e ali, aos poucos, vais-te esquecendo que és ainda um menino de coração aos saltos - estranho, não é? pensava-te vivido, habituado - e viras menino deliciado, vibrante, empolgado. amas, ainda. ainda de paixão. como consegues, avô? como segues ainda ansioso como no primeiro dia. virtuoso como no primeiro dia, assim que te esqueces que as palavras às vezes nos enrolam, e as vives e vestes sem pudor. e abres os braços e evocas os fantasmas que vivem em ti - são tantos, avô, ainda os contas? - e de repente, no choro, colocas o nariz de palhaço e sorris. como ainda sorris assim, avô? como na primeira vez que te vi, tão depois da tua primeira vez? aquela primeira vez que me fez querer ser como tu, ainda sem saber o que queria ser. vi-te tão grande, tão longe. tão doce

I'm doing for music

perco-me entre letras e tons, que contam as histórias como se fossem minhas. os meus momentos. os meus sons. os meus choros e risos. em notas sopradas ao ouvido ou gritadas na estrada. abandonadas para que sejam encontradas. lhes sejam dados os meus sentidos. danço, perdida, ondulada, guiada no palco escuro. descalça, despida de razão. elevo-me sem céu ou terra, base apenas para o voo, chão onde apenas cai a minha água salgada, quente. e envolvo o ar comigo, envolvo-me no ar e pouco mais que as luzes dentro dos olhos fechados encandeia o meu planar. bailarina de pescoço alto, cabelos soltos e coup-de-pied ou menina na praceta feliz, saltitante, brilhante, sem medos. ou apenas o balanço que embala um corpo largado. e no ar gravo o meu suor sem pesares. a voz no escuro, no oculto e anónimo, canta. saboreia palavras e vidas sem caras. e até é bonita, segredada, trinada, aveludada, íntima, sozinha. porque pura e sem pudores, porque simplesmente na simplicidade de cantar. porque escondida.

especiarias

travo forte que se entranha nos sentidos. aroma, voando entre cortinas indiscretas, contornando buzinas e sirenes. entranha-se na língua, que, atrevida, quer mais. o calor da canela salpica o doce com pintas de sensualidade.

fast car

... is it fast enough so we can fly away? hoje ao almoço cantou-me Tracy Chapman. e cantou-me a alma do dia. ... leave tonight or live and die this way.