Avançar para o conteúdo principal

espelho

não me encontro. ruído de estática. desfocada por outros olhares que nunca me viram. tento reconhecer-me naquilo que me reflectem. outra vez o preto e branco. outra vez o lado A, lado B.

a matilha ladra furiosa ao longe. a âmbulância passa aguda no estertor do asfalto. estou parada, à espera. passam e não me vêem. mas ladram e apita.

silêncio. silencio.

tento timidamente redescobrir-me. toco-me e sinto as curvas, profundidades e superficialidades, endérmico, epidérmico, pensar, agir, sentir.

há um ponto no peito que me faz chorar. é como um botão. há uma pinta no peito que me faz sorrir. é bonita.

nas horas vagas da noite alheio-me do outro lado. onde não me sentem e mesmo assim pensam de mim. penso de mim assim, duvido. redefinições, remix, adaptações, em loop, inspirado na obra de.

não me encontro em lado nenhum. posso ser só o que dizem as pontas dos meus dedos?

estou algures no meio.

Comentários

Daniel Aladiah disse…
Querida Polegar
Estar no meio significa equilíbrio, não ser lado A ou B, não ser preto ou branco... mas também não és O equilíbrio, porque a tua alma balança, não consegues ser neutra, tens opinião... e isso é bom.
Um beijo
Daniel
elisa disse…
Também me oprime este meio da indefinição que tento transformar, nem sempre de forma bem sucedida, em meio de virtude.
Aspiro à coerência mas balanceio.
E tu, não te encontras mas estás lá.
Beijos grandes e bom fim de semana:)!
Anónimo disse…
Minha querida, podes ser o que quiseres! Continuarás a ser linda!

Beijo GRANDE em cada ponta de todos os dedos! B.
Shadow disse…
Os dedos muitas vezes dizem mais do que os olhos, às vezes nao enganam tanto.

Há uma história do Pato Donald onde o cão dos escuteiros segue as pistas por braille. Isto é mais do que prova a afirmação anterior ;)
Joana disse…
Lindo. Amei. Escreves cada vez melhor.
E algures no meio, enquanto não nos encontramos, vamos descobrindo uma série de outras coisas cuja desorientação produz coisas tão bonitas como este post.
Beijinho grande

Mensagens populares deste blogue

take me away

uma música triste de Silence 4, uma balada doce de Lifehouse... o estado de espírito desta quarta feira. vou-me embora. por alguns dias, vou-me alhear do mundo. desta vez a redoma é minha. pegar no carro e ir. fazer-me à estrada. com destino marcado a vermelho no mapa, para uma despedida em grande. depois, logo se vê. vou poder descansar. a cabeça [das ansiedades], a máquina [que anda outra vez aos saltos], o corpo [fraco e dorido]. mas acima de tudo, vou poder ser. sorrir quando realmente me apetecer. chorar se e quando me apetecer. vai ser um fim de semana prolongado de apetecimentos.

o duende feliz

não, não é nenhum post acerca do nosso amigo linkado aqui ao lado, esse mestre dos contos e das fantasias... se bem que merecia... é que recebi uma prendinha de Natal e pude voltar às dobragens... algures nesta quadra [ergh, detesto esta palavra] passará na TVI o filme de animação "O Duende Feliz", ou "The Happy Elf". a Molly sou eu. [não tem que enganar é a miúda cuja primeira cena se passa a apedrejar o dito Duende, o Eubie... eheheheh] e também sou eu [kind of] que abro o filme, com a Irmã... esta não tem nome próprio, mas é a ela e ao irmão [que ela entretanto transformou em árvore de Natal à pancada] que se vai contar a história do Duende. sim, sim, calharam-me as miúdas reguilas e ainda por cima as duas dentro da mesma faixa etária... e agora fazer duas vozes distintas...? seria cantado pelo Harry Connick Jr. [essa maravilhosa voz que me persegue com a banda sonora de When Harry Met Sally] mas agora deve ser o Quim Bé a cantar... também não está mal... tu, jov

q.b. de q.i.

como é sabido, neste centro de escritórios funciona também uma das maiores agências de castings do país. há enchentes, vagas de gente daquela que nos consegue fazer sentir mais baixos e mais gordos do que o nosso próprio e sádico espelho. outras enchentes há de criancinhas imberbes que nos atropelam no corredor de folha com número na mão. as mães a gritarem hall fora "não te mexas que enrugas a roupinha" ou "deixa-me dar-te um jeitinho no cabelo ptui ptui já está"... e saem e entram e sentam-se e entreolham-se naquele ar altivo as meninas muito compridas e muito fininhas, do alto ainda mais alto dos seus tacões e com a mini-saia pendurada no osso da anca, que o meu patrão já diz "deixem passar dois anos que elas começam a vir nuas aos castings... pouco falta... têm é de vir de saltos altos... isso é que já não descolam dos pés!" bom, nesses dias aceder à casa de banho é um inferno. é que elas enfiam-se lá dentro nos seus exercícios de concentração preferid