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produtora à beira de um ataque de nervos

domingo

9:00 - acordar. vestir. pequeno almoço de torradas. cigarro antes de levantar o rabo da cadeira, com um "humpf, tem de ser".
9:45 - a caminho do escritório
10:00 - chegar ao escritório. ligar para todos os meninos mimados, para ter a certeza de que estão acordados. fazer sorrir:"serviço-não-perca-o-seu-avião, bom dia!" pensar: e eu que não tive quem me acordasse...
10:20 - a MP está atrasada, vou embrulhando o resto das coisas que faltam e tentar encafuar tudo nas malas que sobram.
10:25 - responder pacientemente ao 35º telefonema do patrão, e dizer que não, não estamos atrasados. ele continua em total histeria-coelho-da-alice-ótica, mas não agressiva. rir com ele e desligar.
10:35 - chega a MP. carregar os tubos de ferro de 20 kg, as 3 malas e os restantes itens escada abaixo. não cabe tudo no meu carro. o pai dela vai ter de nos seguir com o resto.
10:38 - última subida-descida, trancar escritório.
10:47 - ok, agora estamos atrasados. tenho de estar no aeroporto às 11:00... arranco.
11:00 - aeroporto, de telemóvel em riste e ar esgazeado-quasi-taxista, a pedir a alguém que venha com carrinhos para descarregar o carro.
11:15 - a descarregar o carro, chega o patrão, que afinal era o único atrasado. confirmar a suspeita de que quando diz "nós", quer dizer "eu". este exemplar de gente eléctrico-histérico-bem-disposta já perdeu um avião depois do check in... ir arrumar o carro.
11:25 - encontrá-los ás voltas à procura do chek-in. cumprimentos, abraços, brincadeiras, enquanto se espera que a fila diminua e sejam atendidos.
11:40 - evitar largar uma gargalhada quando a MP (nunca viajou de avião e a estreia dela é uma viagem intercontinental de 12 horas) diz que os comprimidos que lhe deram estão fora da validade.
11:42 - ir comprar uma garrafa de água à MP.
11:45 - reprimir gargalhada pelo ar solene da MP ao ingerir um Valdispert com a mesma gravidade de quem mete 2 xanaxs no bucho. explicar-lhe que aquilo não dá pedrada, pode tomar já os 6 de uma vez.
11:53 - rir a bom rir com o patrão que diz que se não tem um bom lugar tem um ataque de pânico no avião. informá-lo que os comprimidos estão fora da validade só para lhe ver os olhos a aumentar de tamanho e a carapinha a electrificar.
11:55 - rir a bom rir com o patrão a contar que da última vez tiveram de lhe bater em pleno voo porque andava aos berros a pedir "parem o avião! eu quero descer!"
11:58 - colar com fita-cola alguns elementos soltos num só volume para não pagar excesso de carga.
12:05 - abraço ternurento do patrão, com um surpreendente "obrigado por tudo".
12:10 - gritar alto: "vão-se embora, saiam da minha vida, acabaram-se os vistoa! vou fazer uma rave! agora vão e façam má figura que eu mando-vos prender com uma denúncia anónima! muita merda!" ouvir os risos de todos.
12:15 - sair com suspiro de alívio. "acabou"
12:35 - quase à porta de casa, 30 km percorridos. receber telefonema do patrão a dizer que a pessoa que levava armas de paintball (para a peça) na bagagem tinha sido chamado. foda-se. dar a volta à rotunda e ficar à espera de novidades.
12:45 - novo telefonema a dizer "vem a correr que eles dizem que a bagagem fica em Lisboa e destroem-na se não estiver ninguém para a vir buscar" explicar que tenho de fazer novamente os 30 km, eles que aguentem um bocado. dizer-lhe para não se armar em herói e embarcar com o resto do grupo.
13:07 - Calçada de Carriche, entrada de Lisboa (25 km percorridos). telefonema a dizer que conseguiram esclarecer a situação e que vão embarcar todos, com a bagagem.
13:15 - acabar o cigarro, parada na berma da Calçada de Carriche, de olhar perdido no mundo, a suar em bica, descarga de adrenalina.
13:16 - dar a volta, apanhar a auto-estrada a abrir, porque a carne assada da mãe fica pronta dentro de 20 minutos.

Comentários

Rantanplan disse…
Livra! fiquei estourado só de ler. Arfa!
elisa disse…
Ufa, que canseira!! Mas a carne assada da mãe deve ter ajudado a repor energias, não;)!Beijinhos
colher de chá disse…
Depois de tamanha correria só espero que finalmente tenhas o tempo de saborear as ditas castanhas com calma e... trabalhar com a serenidade de um "sopro no coraçao" a embalar as horas agora menos agitadas de um escritório caótico no Principe Real.;)

PS. Um cafézinho ou o tal jantar sabia a pato! (q estranho para quem nem sequer gosta de carne )
Daniel Aladiah disse…
Querida Polegar
Que vertigem... :)
Um beijo
Daniel
miak disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
miak disse…
Ufffff...estou cansado! Preciso de um cigarro...se fumasse...

Aceito a carne assada em troca...
maresia disse…
acho que não é só a produtora que está a sofrer desse mal... infelizmente :(
Knuque Mo disse…
é louquinha, o raio da vida!
celofane disse…
11:58.acabei de ler o relato e sorri satisfeito.
11:59.escrevi estas palavras
12:00.despedi-me calorosamente :))))
Anónimo disse…
lolol!!
grande aventura! gosto do aeroporto, da diversidade que lá encontramos.

*******
polegar disse…
rantas: ah pois é... não é para quem quer!
elisa: a carne assada da mãe estava óptima, mas as minhas papilas gustativas ainda estavam em choque...
colherzinha: aliviada estou, mas ainda de ressaca... jantar comin' right up!
daniel: nem me digas nada! beijinho.
miak: eu sei o que escreveste antes de apagar :P carninha assada... hmm... vou investigar para quando uma almoçarada :)
maresia: bolas, tem de calhar a todos, ou eu revolto-me com este mundo ;)
knuque: ora nem mais!
pipetobacco: estupor de geração, esta. o meu mundo por um palco!
sande:19:08: um beijinho aqui deixado só para ti.
ni: o aeroporto é fascinante. mas a mim andava-me a dar engulhos porque é sempre para os outros, bolas...
idontwannagrowup: (ufa, nome comprido) bem vindo ao meu estaminé! preguiçar? o que é isso? :P
André Parente disse…
Valdispert!? Puf... que amanoense! ;)

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