Avançar para o conteúdo principal

pontes


foto roubada a nelson d'aires

o tempo foi perdido, não por nós mas por tudo o que nos fez sermos quem éramos quando nos cruzámos. a desorientação no espaço é inevitável para quem não é mais que um fragmento de si, sem compasso de relógio, sem desejos nem carne. sem sangue. de sabores dormentes. quando o tempo nos toma as rédeas, fica-se suspenso. tudo muda à volta. permanecemos assim, sem o norte. mas sabia onde ficavam os pedaços dos meus dias úteis. e mostrei-te. nessa ponte encontraste a passagem. ali. e descobri que aquela passagem era minha também. escorremos como rio violento, quebrante, fugimos do tempo escondidos na humidade dos peixes. acampámos no limbo do destino, espetámos-lhe as estacas com a volúpia da vingança nos dedos, enquanto o tempo nos procurava. esquivámo-nos em gritos insanos para dentro um do outro. e o sabor acordou. o da tua carne na minha língua, o da tua vida no meu peito, o do meu peito nas tuas mãos, o dos meus gemidos nos teus cabelos brancos. o do sonho nos nossos dias. o amor, enfim o amor. depois não. depois o tempo voltou. depois foi quando os nossos corpos se separaram* e parámos de novo, cada um nos seus pontos recortados de alguma agenda amarrotada por um ser sem nome nem caneta para nos unir. porque não somos mais do que nos deixamos ser. o encontro nem sempre une. permanecemos quedos, querendo o tempo a passar até sermos de novo pedaços de pó. nessa liberdade soltei-me ao vento e à água ao teu encontro. dei-te a minha morte. no fim, fui tua de novo, meu amor.

não sei porquê. mas tive a certeza. este tipo de certezas só se tem uma vez na vida.


*a naifa | três minutos antes de a maré encher |

Comentários

Anónimo disse…
palavras para quê.
Anónimo disse…
despedimo-nos sem sequer nos
conhecermos.


Só para não dizer o mesmo que o espanta...palavras e mais palavras, tuas, sempre.

A Naifa continua a brilhar no mais escuro do ser.
O filme, confesso envergonhada, que ainda não vi.

O que eu levo comigo?
Tudo, mas principalmente:
"porque não somos mais do que nos deixamos ser"
Anónimo disse…
Pedi emprestado este nome a uma amiga. Nunca me fez tanto sentido como agora. Ela não se importa e eu espero que tu gostes (estou a referir-me a comentário anterior).
Anónimo disse…
liiiiiiiiindo..... :)
Anónimo disse…
irrepetivél...
Anónimo disse…
Por que será que consegues descrever aquilo que sinto exactamente como a cabeça quer e o coração pede? Por que será que só tu o consegues? Como fazes? Estou paralisada. Nem sei pensar, fico estática à espera das respostas, à espera desta sensãção de novo. Á espera do amor, do encontro e da separação, do desejo e da saudade, da surpresa e da emoção.
Fico com as lágrimas trancadas e o coração a querer explodir.
Por que só tu consegues isto?
és A Polegar, claro.

Mensagens populares deste blogue

take me away

uma música triste de Silence 4, uma balada doce de Lifehouse... o estado de espírito desta quarta feira. vou-me embora. por alguns dias, vou-me alhear do mundo. desta vez a redoma é minha. pegar no carro e ir. fazer-me à estrada. com destino marcado a vermelho no mapa, para uma despedida em grande. depois, logo se vê. vou poder descansar. a cabeça [das ansiedades], a máquina [que anda outra vez aos saltos], o corpo [fraco e dorido]. mas acima de tudo, vou poder ser. sorrir quando realmente me apetecer. chorar se e quando me apetecer. vai ser um fim de semana prolongado de apetecimentos.

o duende feliz

não, não é nenhum post acerca do nosso amigo linkado aqui ao lado, esse mestre dos contos e das fantasias... se bem que merecia... é que recebi uma prendinha de Natal e pude voltar às dobragens... algures nesta quadra [ergh, detesto esta palavra] passará na TVI o filme de animação "O Duende Feliz", ou "The Happy Elf". a Molly sou eu. [não tem que enganar é a miúda cuja primeira cena se passa a apedrejar o dito Duende, o Eubie... eheheheh] e também sou eu [kind of] que abro o filme, com a Irmã... esta não tem nome próprio, mas é a ela e ao irmão [que ela entretanto transformou em árvore de Natal à pancada] que se vai contar a história do Duende. sim, sim, calharam-me as miúdas reguilas e ainda por cima as duas dentro da mesma faixa etária... e agora fazer duas vozes distintas...? seria cantado pelo Harry Connick Jr. [essa maravilhosa voz que me persegue com a banda sonora de When Harry Met Sally] mas agora deve ser o Quim Bé a cantar... também não está mal... tu, jov

q.b. de q.i.

como é sabido, neste centro de escritórios funciona também uma das maiores agências de castings do país. há enchentes, vagas de gente daquela que nos consegue fazer sentir mais baixos e mais gordos do que o nosso próprio e sádico espelho. outras enchentes há de criancinhas imberbes que nos atropelam no corredor de folha com número na mão. as mães a gritarem hall fora "não te mexas que enrugas a roupinha" ou "deixa-me dar-te um jeitinho no cabelo ptui ptui já está"... e saem e entram e sentam-se e entreolham-se naquele ar altivo as meninas muito compridas e muito fininhas, do alto ainda mais alto dos seus tacões e com a mini-saia pendurada no osso da anca, que o meu patrão já diz "deixem passar dois anos que elas começam a vir nuas aos castings... pouco falta... têm é de vir de saltos altos... isso é que já não descolam dos pés!" bom, nesses dias aceder à casa de banho é um inferno. é que elas enfiam-se lá dentro nos seus exercícios de concentração preferid