Hoje ando a pensar em coisas bonitas... Que me punham bem disposta em menina...
As papoilas, as azedas, os malmequeres para os amores. Os girassóis (sempre bem-dispostos, os sacanas), as frésias brancas e as túlipas.
Os meus sonhos com bailarinas e fadas, transparências e fragilidades, eternuridades e magia.
O cheiro das torradas à noite, do chá doce saído do termo dos Marretas, da roupa acabada de lavar, do batom que eu tinha escondido, da minha boneca preta, da terra molhada da praceta, da cebola a refogar e do "frango à maricas" no forno.
O som do vento a passear nas árvores da tal Praceta, os gritos e os risos dos putos, o "homem da chuva", a água a ferver para o chá, os talheres a bater, a minha mochila da escola (sempre maior que eu) com as canetas a chocalhar no estojo, os amigos a mandarem pedrinhas à janela para eu deixar os trabalhos de casa, o tilintar dos pequenos tesouros da minha caixa secreta, a buzinadela que os meus pais davam quando iam embora, a mota do Zé das Cautelas, a fogueira a crepitar nos santos, o meu cão a correr.
Costumo queixar-me da minha memória. Mas estes pedaços de mim estão entranhados na pele.
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