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V., para ti

apesar de ter andado a falar de pessoas-personagens, que vivem em mim e numa caixa gigante com um quarto iluminado por holofotes e esperança de vida de hora e meia, hoje vou falar de uma pessoa-pessoa.
V. era a beta que me irritava nos primeiros tempos da faculdade. mas estávamos sempre juntos, todos, naquele grupo heterogéneo de gente que vinha da mesma zona e apanhava o mesmo metro das 7 da manhã. e, apesar das diferenças, da fase da vida por que eu estava a passar, a V. entranhou-se em mim. devagar.
a V. mudou e eu mudei, somos assim, gente, pessoas, e a formação da personalidade é diária. e assim nos entranhámos uma na outra, fugindo das aulas para jogar matraquilhos, indo para o café fumar os primeiros cigarros ás claras, gozando com o "Manel" e partilhando ideiais de esquerda fomentados ainda mais pela faculdade reaccionária onde aprendemos as teorias todas de livros anteriores (obviamente) a 1974.
a V. já não é beta e eu já não uso sempre calças de ganga... agora eu também gosto de marcas e a V. está mais doce e vamos as duas ao "horroroso" Colombo.
os "loucos anos" passaram-me despercebidos, porque ser louca era normal. afinal, estava acompanhada de outros. e V. destacou-se. pela preserverança. pelas certezas absolutas do que queria. e pelo acompanhar do crescimento e decisões da minha vida. com as opiniões muito próprias e muitas vezes diferentes das minhas. que aprendemos a respeitar uma na outra. sem que, espantosamente, isso nos afastasse.
já aqui falei dela. dos nossos disparates.
mas recordo também as infinitas conversas sérias. nas piscinas e no carro antes e depois das aulas de step, para onde me arrastou.
V. tem uma personalidade muito muito muito vincada. desde sempre soube o que queria e ainda acredito, depois destes anos todos, que um dia ainda a vou ver num Iraque da vida de camuflado, no meio do pó, a falar do avanço das tropas, debaixo de fogo cerrado. e a imagem da rapariga de nariz arrebitado cheia de sardas de capacete cheio de folhagens maior que a cabeça faz-me sorrir.
a vida levou-te onde precisavas de estar. tenho a certeza disso.
gostei de entrar na SIC de braço dado contigo para o teu primeiro estágio. de dar-te bateria para o velhinho Y10, de fazer-te "as unhas" à borla quando saías do trabalho para bebermos café. de apanhar a minha única bebedeira pública contigo, enquanto esperávamos que o teu destino se viesse encontrar conosco daí a pouco.
gostei que me mandasses aquela primeira carta, que estivesses sempre na plateia, que gozasses com o meu cabelo amarelo, que me desses umas dicas sobre uns certos bruxedos, que me lesses o tarot, que me preparasses aquela fantástica surpresa no aniversário, e que me fizesses chorar no messenger quando me forçaste a admitir que não, ainda não estava bem.
V. é carisma, sentido de humor tramado, inteligência, sangue quente boca fora e sangue frio no trabalho, V. é amor à camisola e noitadas de conversa num sofá qualquer. V. é Londres e Camden Town. E a V. é a única que conseguiu ser, de facto, aquilo para que tirou o curso. V. é capricho e, lá bem no fundinho, a ver se escapa, um coração muito muito grande. V. é uma daquelas amigas.
parabéns, querida. um beijinho

Comentários

Anónimo disse…
é bom termos pessoas assim na nossa vida, e acredito que existem mto, mto poucas que nos acompanham tão de perto. ó tempo volta pa trás...
angel_of _dust disse…
Bem, polegar, parece que decidimos abrir o baú das memórias e amores ao mesmo tempo :) não sei se será necessidade catártica ou de qq reflexão, mas a mim soube-me bem - e a ti?
polegar disse…
nuno: é um facto, essas pessoas são cada vez mais raras, e muitas desiludem-nos ao longo do caminho. é complicado gerir entre a tolerância para com os outros e a tolerância que esperamos dos outros.
angel: soube muito bem. felizmente a V. está mais perto que a tua Ritinha. no entanto, nunca se sabe quem encontramos ao virar da esquina... ;)

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