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Castro pela Cê D~eê... bolas... leiam!

fui intimada "porque no teu blog falas sempre de tudo, porque é que não hás-de falar disso?!?!?!" a dar a minha opinião sobre "Pedro e Inês, talvez..." pela Cê Dê Cê (ai a guerra que foi com o teclado para escrever isto) - Companhia de Dança Contemporânea de Alcobaça, a que assisti na 6ª feira.
... pronto, tá bem...
fui tansa: cheguei meia hora atrasada porque alguém no seu mail me disse que era às 21:30. mas pronto, devia ter confirmado...
quando cheguei, a D. Constança rebolava no chão indo ter com o D. Pedro cheia das vontades, mas ele dava-lhe um encontrão que a mandava para trás porque queria era rebolar com a D. Inês.
até aqui tudo bem.
o grande problema do Bailado, seja clássico ou contemporâneo, é que tem um linguagem que necessita de habituação. com a ausência das palavras, a única ajuda é da música e da expressão dos intérpretes. nem sempre é fácil. se comprarmos os programas (caros...!) ajuda muito. se não, apreciamos muitas vezes apenas a beleza estética e a qualidade técnica (vulgo "dasse, mas como é que ela mete a perna ali?" ou "como é ela foi para ali?" ou até "caramba, quem é que obriga os gajos a vestir aquelas lycras? oh por favor! aquilo não pode ser natural") dos bailarinos, até aprendermos os códigos.
eu sou fâ de dança. prefiro a clássica (I'm a sucker for tutus), mas também gosto muito de contemporânea. e aceito o desafio de conseguir perceber a mensagem sem palavras. às vezes é complicado.
nesta tínhamos a vantagem de já termos feito a peça, de termos levado durante 3 meses com todo o contexto histórico, bem como os fait divers todos... sabíamos a história, criámos a medo as personagens e recebemos de alma aberta as energias dos próprios em Alcobaça e Coimbra... e uns dos outros.
anyways... gostei. muito. porque é daquelas histórias que me apaixonaram e que faria de novo mil vezes (mesmo tendo de pintar o cabelo de amarelo outra vez). porque dançada tem um dramatismo que muitas vezes se perde com a facilidade das palavras. porque se descobrem formas de se dizer as coisas com um toque. porque lá no meio saltavam músicas de Carlos Paredes.

agora os contras (eheheh esfrega as mãos de contente e espera não morder na própria língua senão morre)...

os solos e pas de deux sim senhor, agora os corpos de baile vão-se mas é catar. falta de sincronização. e não venham dizer que "é suposto cada um ter um estilo, que é contemporâneo e assim é que é, não percebes nada, não és intelectual", porque é feio (tão simples como isso) estarem a fazer os mesmos passos com lapsos de centésimos de segundos que saltam à vista, e uns muito tesos e outros a rebolarem-se.

aquela amiba - tentativa de presença imponente do rei tipo assombração, que só aparecia em projecção multimedia - que declamava textos de olhos muito abertos e entoação absurdamente melodramática (boca muito aberta, voz cavernosa, fundo de chamas e o resto do pacote, a lembrar-me alguém...), com o plano fechado na cara, a notar-se que estava A LER. os olhinhos muito escancarados, saídos das órbitas, até aí, pronto, aceita-se, é um estilo. mau, mas um estilo. agora os olhinhos escancarados, saídos das órbitas a saltitar de um lado para o outro, dedurando que o tipo com as folhas de papel estava ali do lado direito... eeek!

a interrupção a meio do espectáculo, assumida com uma projecção que mostrava a palavra "publicidade". ora no meio da tragédia (acho que ela estava a ser morta, ou a ter o pesadelo da própria morte), aparece um senhor com uma tábua com um coração desenhado, põe-no no chão e faz-lhe sapateado em cima com um sorriso enorme. depois, aparece projectada a própria da Inês, sorridente, com uma caixa de detergente com o rótulo "Inês", e todos em conjunto dançam muito bem dispostos, cá à frente, ao estilo anúncio Tide, com a bendita caixa de detergente ao vivo. terminam a dança contentinha...
...passando o polegar pelo pescoço (único gesto que lhes saiu em uníssono em todo o espectáculo) e deitando a língua de fora, cabeça pendurada.
houve quem se risse. nós gelámos nas cadeiras. aquilo já nos passou na pele e não caiu bem aquela brincadeira. era comic relief, mas a mim não me aliviou.

o estupor da ideia que há agora de TUDO o que é peça/espectáculo ter dois actores para o mesmo papel... começou com "Morte de Romeu e Julieta" na Cornucópia e "Pedro e Inês" da CNB (mas esses podem fazer o que quiserem, eu deixo), e foi tristemente copiado pelo meu encenador (contra mim falo, que se não fosse assim, não teria sido Inês) e agora pelo senhor coreógrafo da CDC (eheheh safei-me)... ainda por cima tiveram dinheiro para vir para o Teatro Camões, mas para fazer dois vestidos tá quieto. eu bem que estranhei que a primeira Inês (na altura achava que única) tinha as alças sempre a cair, o que é feio e mau para a bailarina. depois percebi quando aparece a (outra) Inês morta (um único pas de deux, será que não dava para a outra, que era óptima, fazer tudo?) com umas mamas 3 números acima e sem problemas de alças a cair. e fez-se luz.

aquela coisa de enquanto morria Inês uma bailarina fazer playback (mas cantando por baixo e ouvia-se... eeek) do "Llorando", uma adaptação de Crying, cantada soberbamente em Mullholland Drive de David Lynch. havia outras músicas que se adaptariam melhor, e o playback foi muito mal feito. os bailarinos, na marioria dos casos, não cantam. aqui ficou explicado porquê.

ter visto o Paio (quem conhece sabe quem é) à saída... spooky.

faltar cá o resto do pessoal, para sairmos de lá a fazer pas de deux que, invariavelmente, acabam de nariz no chão e com o Guinho de pulsos abertos de nos levantar no ar.

e pronto. foi isto. satisfeita? :P

Comentários

O meu coração também balança mais para a dança clássica (ai as sapatilhas de pontas...).
Consoante fui lendo o teu relato ia sentindo calafrios e pensando 'bolas!, antes ela que eu...'. :)
Beijinhos!
polegar disse…
ena! se sou maluca, não o sou sozinha! também gostas de sapatilhas de pontas? eu tenho umas... eheheh e faço colecção de fotos de bailarinas...
agora actualizei com uns links. se quiseres, podes revisitar essa época, em que ainda não "me" lias ;) esses meses estão cheios de Inês.
Anónimo disse…
Sim, muito satisfeita. ;-) A Linha Recta quase que deixa de o ser, rebolando-se e enrolando-se nas tuas palavras, ainda ao ritmo da da "Llorando". Porque só assim consigo agora imaginar bailado. Uma coisa natural e flexível, cheia de ganas e abrandamentos. Também não achei nada de soberbo, não senhora. Nada como ir a muitos, senão a todos, e reconhecer quando vemos um ENORME espectáculo. Não percam Benvindo Fonseca ou Olga Roriz. Não se vão arrepender.
Quanto àquilo que escreves, tenho a dizer: Gosto! Vais, avanças e já está. Tá dito. Ponto.
polegar disse…
Linha recta, lendo a parte do rebolanço só me lembro de uma coisa:
"eu choooooooooro"
Anónimo disse…
;))

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