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aconchego

em desassossego percorreu o corredor e pôs-se em frente à janela...
- é quase meia-noite, o Pai Natal deve estar aí a chegar. vai ver se o vês...
as palavras aceleravam-lhe o coração e rebrilhavam-lhe nos olhos mil fantasias.
de olhos fixos no céu escuro e pontilhado, tentava adivinhar um movimento.
passou uma estrela cadente. fervorosamente, repetiu as palavras que a avó lhe ensinara.
- deus te guie, deus te guie, deus te guie.
para não cair na terra e dar um desejo, que pediu, de alma aberta. perdido nos entretantos de memórias de tantos sonhos e desejos por estrear.
e perdeu-se em fantasias cor-de-rosa em que as almofadas eram as nuvens e as lanternas as estrelas. no encantamento sentiu a lua a fazer-lhe festinhas no cabelo com as suas mãos de vento. era a avó, que vinha ver se ela estava sossegada. pôs-lhe a mão no ombro, respeitando o silêncio prescrutante. e ficaram as duas a ver se aparecia o Pai Natal.
de repente, do fundo dos seus sonhos soou uma campainha.
deu um salto e de mão dada com a avó, correu pelo corredor até ao sapatinho por baixo da árvore de Natal. mergulhou nas cores, que rasgou, de olhos gulosos...

Comentários

polegar disse…
para mim sempre foi o pai natal... aquele senhor meio bispo, meio boneco da coca-cola... com muito orgulho! o menino jesus era aquele que ficava ao frio no presépio, a quem eu punha sempre um trapinho por cima com pena... eu não sou católica, sou consumista e familiarista assumida!

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