acordo cedinho, que a vida não está para menos. saio a correr porque quero estar cedo na paragem do autocarro. o autocarro chega 15 minutos depois da hora, por causa do trânsito. por causa de se ter atrasado foi apanhando o dobro das pessoas pelas paragens. chega à da minha terrinha (que é a última antes da autoestrada) e "só entram 5 pessoas, peço desculpa". tuuudo bem. espero mais um cigarro, chega a outra camioneta, vazia, claro. chego a Lisboa. apanho o metro. o meu carro está pronto, tenho de o ir buscar ao Areeiro. chego lá. ainda apanho um pedaço de conversa: "e depois ela foi a um desses médicos naturais..." "naturalista." "sim, isso". pago pouco, parece que foi só um fusível. saio contentinha. na 2ª circular o carro pára. outra vez. não, outra vez não... ligo para a oficina, pergunto se é para os apanhados. mandam lá um senhor (por sinal num carro de um cliente, com os plásticos no assento). ele troca o fusível e segue-me de volta à oficina. armo outro escabeche, eles que nem pensem cobrar arranjo nenhum, deviam ter-se lembrado de ver qual era o motivo de os fusíveis rebentarem antes. lá baixa os olhos e escreve "reclamação". saio a fumegar. o pequeno almoço já desceu há horas, mas estou atrasada. metro. Martim Moniz. subo as escadinhas de calçada com laranjeiras e desço a rua. aceno ao dono do cafézinho, mas hoje não dá para segundo pequeno-almoço, de bica e bolinho de manteiga. subo as escadas do prédio. ligo o computador, escancaro a janela. cheguei...
sabes quando te revisitas e já não te encontras? não sabes o que fazer de ti contigo. as perdas têm sido valentes, as estocadas mais fundas. pensei que por agora a pele estivesse mais grossa, mas não. pensei que estivesse de pés assentes, mas há força nas pernas. perdi o meu pai. perdi o meu chão. espero por uma fase boa. em que esteja tudo bem, organizado. nem que venha depois outra ventania, mas um pedaço de vida em que tudo esteja no seu lugar. só por um bocadinho. mas não. as peças estão espalhadas, quando começo a arrumar umas, caem ao chão as do outro canto da vida. um empilhar de pratos num tabuleiro demasiado cheio, que não se tem oportunidade de ir despejar à cozinha. até as metáforas me saem avariadas, já. tabuleiros de cozinha é o que me sobra. isto são metáforas, certo? é um padrão, o padrão caótico da minha vida, que tento desenhar em palavras que já não tenho. quero despejar-me aqui mas não sei bem como. os medos continuam, sabias? estão piores, diria, porque...
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