gosto de avessos. de interiores. de toques com sentidos subliminares. de contextos e pretextos. de intenções. entrelinhas. gosto como gosto de um doce que se espreme entre a língua e o céu da boca devagar, que se deixa escorrer pelo palato como se fosse uma palavra complexa, cheia de ditongos e arabescos. que se degusta. gosto de suspeitar apenas de um olhar e de poder penetrar nele lentamente, pedindo que me seja dada essa permissão, sem palavras. gosto do interior dos suspiros, onde se alojam os segredos. escondem-se vidas inteiras sussurradas no eco de um gesto. as memórias que o voo de um cabelo transporta. o receio que o brilho da pele encobre. pode ser um silêncio que grita. pode ser um grito que murmura. é nesse avesso das pessoas que se encontra a sua alma. nos pequenos ses. na água. dos olhos e da boca. das mãos. nas dúvidas e fragilidades em que se revela cada intimidade. cada íntimo. onde se desnuda o ser. quando simplesmente se é.
sabes quando te revisitas e já não te encontras? não sabes o que fazer de ti contigo. as perdas têm sido valentes, as estocadas mais fundas. pensei que por agora a pele estivesse mais grossa, mas não. pensei que estivesse de pés assentes, mas há força nas pernas. perdi o meu pai. perdi o meu chão. espero por uma fase boa. em que esteja tudo bem, organizado. nem que venha depois outra ventania, mas um pedaço de vida em que tudo esteja no seu lugar. só por um bocadinho. mas não. as peças estão espalhadas, quando começo a arrumar umas, caem ao chão as do outro canto da vida. um empilhar de pratos num tabuleiro demasiado cheio, que não se tem oportunidade de ir despejar à cozinha. até as metáforas me saem avariadas, já. tabuleiros de cozinha é o que me sobra. isto são metáforas, certo? é um padrão, o padrão caótico da minha vida, que tento desenhar em palavras que já não tenho. quero despejar-me aqui mas não sei bem como. os medos continuam, sabias? estão piores, diria, porque...
Comentários
sublime, querida polegar.
um sopro de maresia em tarde de sol.