Avançar para o conteúdo principal

agruras da vida #2

a maré baixou e deixou expostas todas as fragilidades ao ar, a apodrecer.
basicamente, 6 meses de trabalho deitados fora. apesar de todos os conselhos, nós, as práticas (que ficaram por terras lusas), fomos acusadas de negativas pela garganeirice dos que achavam que do outro lado do Atlântico se resolveria por magia tudo o que devia ter ficado bem explícito ainda do lado de cá (e que não dependia de nós, as práticas). parceiros que deram a facada nas costas. burocracias intransponíveis. promessas de intermediários só se revelaram ainda mais ocas do que já pareciam quando já era ou vai ou racha. acharam que era de ir na mesma. duas semanas de trabalho intensivo aqui das práticas, e foram.
partir às cegas é giro, quando se é turista.

depois de tudo isto, voltarão, antes de tempo, com o rabo entre as pernas, de feitios intratáveis, e com a certeza das frases que já vamos ouvindo há uns tempos: "porque é que não fizeste/levaste/trouxeste/ligaste?" (a culpa é sempre de outros), "esta semana ainda não tenho como te pagar" (a minha preferida, ouvida em loop todas as semanas), "isto está complicado, se calhar vamos ter de repensar os ordenados" (ahahahah!).

a realização profissional já estava abaixo de zero, obrigada: trabalhar a recibos verdes por uns trocos ao mês (mês, pufff!) a fazer horários full time (e às vezes mais que isso), e inclusivé com funções múltiplas que valeriam contratar outra pessoa (ou seja, pagarem-me o dobro). a fazer produção (que não gosto) para espectáculos onde não entro, com as mesmas condições daqueles em que, ao menos, entrei. sem perspectivas de tábuas a pisar.

agora? agora é olhar em frente à espera do que a maré me trará. sair daqui ou não, esperar, continuar, não sei. só sei que tenho planos pendentes, dependentes, dos quais depende a minha saúde. mental e física. e que poderão ter de ser, mais uma vez, postos de parte.

...

alguém tem o contacto de uma bruxita?

Comentários

Rantanplan disse…
Só se te der o contacto da minha ex-namorada. Serve os teus desígnios?
O Estranho disse…
Disse uma vez a uma amiga que sou meio bruxo, mas acho que só te valho se oferecer um ombro...
polegar disse…
rantas: agora fizeste-me tu rir :D

estranho: beijinho... a que dias dás consultas? :P

Mensagens populares deste blogue

sabes quando te revisitas e já não te encontras? não sabes o que fazer de ti contigo. as perdas têm sido valentes, as estocadas mais fundas. pensei que por agora a pele estivesse mais grossa, mas não. pensei que estivesse de pés assentes, mas há força nas pernas. perdi o meu pai. perdi o meu chão. espero por uma fase boa. em que esteja tudo bem, organizado. nem que venha depois outra ventania, mas um pedaço de vida em que tudo esteja no seu lugar. só por um bocadinho. mas não. as peças estão espalhadas, quando começo a arrumar umas, caem ao chão as do outro canto da vida. um empilhar de pratos num tabuleiro demasiado cheio, que não se tem oportunidade de ir despejar à cozinha. até as metáforas me saem avariadas, já. tabuleiros de cozinha é o que me sobra. isto são metáforas, certo? é um padrão, o padrão caótico da minha vida, que tento desenhar em palavras que já não tenho. quero despejar-me aqui mas não sei bem como. os medos continuam, sabias? estão piores, diria, porque...

q.b. de q.i.

como é sabido, neste centro de escritórios funciona também uma das maiores agências de castings do país. há enchentes, vagas de gente daquela que nos consegue fazer sentir mais baixos e mais gordos do que o nosso próprio e sádico espelho. outras enchentes há de criancinhas imberbes que nos atropelam no corredor de folha com número na mão. as mães a gritarem hall fora "não te mexas que enrugas a roupinha" ou "deixa-me dar-te um jeitinho no cabelo ptui ptui já está"... e saem e entram e sentam-se e entreolham-se naquele ar altivo as meninas muito compridas e muito fininhas, do alto ainda mais alto dos seus tacões e com a mini-saia pendurada no osso da anca, que o meu patrão já diz "deixem passar dois anos que elas começam a vir nuas aos castings... pouco falta... têm é de vir de saltos altos... isso é que já não descolam dos pés!" bom, nesses dias aceder à casa de banho é um inferno. é que elas enfiam-se lá dentro nos seus exercícios de concentração preferid...

there goes my hero. 1 ano

Pergunto-me o que acharias acerca desta demência toda, desta distopia rocambolesca mas ainda assim não suficientemente diferente do “normal”. Deste bailado em corda bamba da auto-idolatria com os gestos incrivelmente abandonados de ego. Desta atrapalhação profundamente honesta e refinada que se aprende fazendo e se desfaz em ilusões como uma teia fininha. Deste viver no presente forçado, fincados no agora até à dor no pescoço porque agora é que não sabemos mesmo o que vem depois de amanhã.  Provavelmente discutimos aces amente sobre uma merda política qualquer que não controlamos, para a seguir nos estarmos a rir cúmplicemente de qualquer coisa pouco apropriada. Cheira a grelhados, que o vizinho tem quintal, e aí a coisa custa mais. Esse peso bom da mão inteira na cabeça que me guardava a inquietude faz falta. Distopia é não estares aqui. O resto aguenta-se com um cravo ao peito. Contigo cravado no peito.