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desrespirado

a multidão condensava-se num vapor pegajoso e barulhento. luzes demasiado brancas, neons e cartazes. consumia-se em cada passa de cigarro para se tornar mais nítida depois do fumo se misturar na respiração do ar condicionado. duas amigas em gargalhadas, um grupinho discutia trabalhos e teorias, com cuidado para não sujar a gravata com o molho da maionese, se ela fosse lá ter agora não estava com essa em cima, ela tem de se desenrascar, onde compraste esse casaco?, o caderno em cima da mesa.
alheia de sons e vozes e suspirares, observa apenas, absorta, ouve sem fixar. alarme de loja dispara sozinho. a sério? mas achas que. fui ao centro comercial pipipipipipipi.
o pensar misturava-se com os sons sem nexo e sem nexo continuava o pensamento.
bocejou. desligou. o filme começa daqui a pouco

Comentários

colher de chá disse…
Desculpas-me? ... Desculpem-me. Os dois.

Beijos com uma lagrima teimosa que quer ir ter convosco.
Madame Pirulitos disse…
Este é um momento íntimo ainda mais bonito.

Hoje estive nun café repleto de sons sem história, de pensamentos soltos e pouco profundos. Ao bebericar uma amendoa amarga apercebi-me de que não queria estar ali. Apetecia-me desligar o botão e fazer desaparecer aquele filme. Um outro deveria estar para começar. Em algum canal, em algum outro lugar...

Beijo
Daniel Aladiah disse…
Querida Polegar
Quando o nosso pensamento vagueia, absorvemos o real de uma forma fantasmagórica. O texto é mais denso do que parece ;)
Um beijo
Daniel

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